domingo, 5 de outubro de 2008

E SE...?:

A imagem acima apresentada foi reproduzida a partir do meu exemplar da fotobiografia de bolso de Fernando Pessoa, da autoria de Maria José de Lencastre. Mais uma na série que ficou para a posteridade, a dos retratos do poeta em movimento nas ruas da Baixa lisboeta*, esta tem no entanto uma particularidade que a legenda parece descrever acuradamente: «Pessoa descendo o Chiado com Augusto Ferreira Gomes».
*: Quase(?) uma encenação - a do "poeta citadino", como comentou o meu amigo João Alves.

De facto, esta imagem mostra a decomposição de um movimento em três... fotografias, ou deveria eu dizer: três fotogramas.
Eu não sou, de modo nenhum e pelo contrário, especialista em fotografia, mas quer me parecer que uma máquina fotográfica normal não permite este tipo de "representação", ainda para mais na época em que parece se desenrolar a "acção"...

E foi assim que eu acabei por perguntar à autora do livro (durante um "curso livre" sobre F.P. no final de 2007 ou início de 2008, na Faculdade de Letras de Lisboa) se aquilo não era, enfim, parte de um filme ou qualquer coisa assim ...
Para me justificar, e porque de facto pensei assim, disse que os furos que seguiam paralelamente as imagens faziam lembrar a película dos filmes.
Alguém contrapôs logo que com as máquinas fotográficas também era assim, e de facto é. (Até parece que não sou ainda desse tempo, o das máquinas não digitais).
Maria José de Lencastre, quanto a ela, um pouco surpreendida pela pergunta, respondeu-me que não se lembrava do suporte físico da(s) imagem, visto já terem passado muitos anos desde a realização do livro (o que é perfeitamente compreensível), e em jeito de brincadeira acrescentou que «se houvesse um filme do F.P., já seria do conhecimento público».

Posteriormente, lembrei-me de que os negativos das máquinas fotográficas é que têm, esses sim, os furos dispostos na horizontal, ao contrário do que parece acontecer para os filmes.
Mas, como podem constatar no quarto parágrafo da introdução da página em inglês da Wikipédia sobre fotogramas, também há películas que se movem horizontalmente.

Resumindo: estas três imagens foram muito provavelmente fotogramas de um filme e não fotografias isoladas tiradas a uma grande velocidade.
(Afirmá-lo implicaria saber que essa tecnologia não estava disponível à época, o que, na minha condição de não especialista, é-me impossível).

Enfim... É claro que à primeira vista tudo isto não adianta nada. Se houve uma série de fotogramas de Fernando Pessoa, longa o suficiente para reproduzir o seu movimento descendo o Chiado, só os mortos é que o sabem; ou melhor, souberam...

... Mas já que falo de coisas que se perderam(?), porque não referir o que poderá similarmente estar em vias de acontecer, e que poderão acompanhar detalhadamente nos seguintes links, aqui, aqui e aqui.

Update - 07/10/2008 - O mistério adensa-se: como bem reparou o Nuno Hipólito, há outra imagem do mesmo género, também com três "fotogramas", na Fotobiografia de F.P. (a minha memória também não está grande coisa), mas nesta o poeta aparece sozinho.
Estaremos nós afinal em presença de um tipo de fotografias com apresentação especial, "cinematográfica"?...

2 comentários:

romantikscent disse...

Olá Miguel, desde já deixe-me dar-lhe os parabéns pelo magnífico trabalho de BD que enaltece a vida desse grande Poeta - está delicioso e magnificamente bem construído!
Fiquei agora surpreendida por saber que o conheço pois também frequentei esse curso sobre FP na faculdade de letras (em Abril e Maio deste ano)!
Lembro-me que colocava várias questões nas aulas, entre elas essa, da qual me lembro perfeitamente.
Fiquei também surpreendida com a resposta da senhora (é estranho nunca ter pensado que essa pelicula poderia ser dum filme). Também já tinha reparado nessa película fotográfica que o Nuno Hipólito lhe falou, que revela FP sózinho a caminhar no Rossio (penso eu).
Nao sou especialista em fotografia mas concordo consigo.
Quanto material valioso poderá andar por aí? (e quanto material a sobrinha dele ainda pode esconder...)
Cumprimentos,
Ana L.

Miguel Moreira disse...

Obrigado Ana.
Abril/Maio, é verdade!